13 julho, 2013

Mudar

Nada vale mais do que a dádiva do ser humano em poder mudar de opinião. Tudo é uma constante mudança e dentro de nós mesmos a vida pulsa tão forte que é triste demais poder dizer "está decidido" ou "vai ser assim pra sempre".
Convenhamos que o mundo muda, as coisas mudam e as pessoas, ah! Estas sim mudam mais, mudam muito! A cada dia, a cada burrada, a cada tombo e a cada sorriso.
Que a vida mude muito, que o destino contradiga, que nos surpreenda e que nos faça sentir aquele friozinho na barriga do desconhecido, daquilo que ainda não vemos, que nunca fizemos! E lhe digo mais meu caro amigo, que só assim, mudando e crescendo que as coisas acontecem!
Coitados daqueles que tem a vida toda certinha e decidida...Não invejo, tenho pena.
Brindo aqueles momentos de reviravolta...onde a unica certeza é que nada mais vai ser igual.
E é por isso tudo que eu jogo as pedras nos rios, ele nunca, nunca mais serão os mesmos após a minha intervenção.
O Fabuloso Destino de Amelie Poulain
                      

08 julho, 2013

O vestido azul

                                                                                 

Ela gostava da hora de dormir, quando podia inventar todos os planos possíveis que viveria, inventava os mapas pra seguir e vivia, intensamente seu sonho. O sono bom lhe trazia a realidade de muitas coisas na vida e quem disse que sonhar não é viver?
Por muito tempo ficou ali, obscura entre uma parede e uma rua pequena, loteada por casas estranhas, numa cidade longe de tudo que julgava ser seu. Aí um dia acordou e veio ao mundo pra desafiar o que era mais belo, o que era mais certo. Ela não queria uma vida toda certinha, ela queria as emoções e teve. Instintivamente ela teve e pode sim, contar pros netos aquilo que viveu, com alegria de alguém que desafiou o mundo, com a coragem de quem não se fez de vítima depois um ou dois baques que a vida deu.


Era um dia comum, um dia como outro qualquer, um dia de calor, diferente dos dias de chuva que queria tanto viver. Maísa conferia que a roupa nova lhe caira muito bem, era de um azul todo bonito, estampado e solto. O vestido chamava atenção dos olhares masculinos e a inveja de algumas mulheres que passavam pela rua e lhe torciam o nariz.
Foi então, realizar aquilo que mais pensou naquela última semana. Seria um dia difícil e ela precisava, no mínimo, estar bem vestida, tudo poderia acontecer.
Avistou seu destino, depois de mais ou menos uns quarenta minutos.
Pegou a carta, a bolsa e o anel que ganhou. Saiu do carro.Andou nada mais que um quarteirão, viu a porta. Aquela porta por onde entrou algumas vezes, aquela porta que bateu, também por algumas vezes e com raiva, quase deixou sua ideia pra trás.
Seria hoje, entregaria o anel e a carta, com tudo o que sentia, com tudo que não conseguia falar, pois aquela presença lhe tirava a habilidade de dizer qualquer coisa, então, sempre assim, chegava em casa e escrevia, o que não conseguia dizer.
Olhou pra trás, ninguém na rua. Caminho aberto.
Enfrentou o medo e seguiu.
Um, dois, três degraus.
Tudo em silêncio.
Bateu na porta.
Uma, duas e três vezes. No fundo, desejava que ninguém saísse.
E como se uma fada lhe atendesse o pedido, a casa estava vazia.
Maísa, meio saltitante de alegria, por ter o dia mais decisivo da sua vida adiado, um tanto decepcionada por não poder dizer (ou ler) aquilo que estava engasgado a tanto tempo, desceu os degraus....
Andou de volta o quarteirão, entrou no carro, levantando a barra do vestido azul todo bonito e se foi, ouvindo as musicas que o faziam lembrar...
[...]
Do outro lado da porta, ele encostou, um tanto decepcionado por não ter coragem de sair e enfrentar aquele que poderia ser o dia mais importante da sua vida, um tanto feliz, por adiar tudo que ele iria ouvir (e sabia que ia ouvir) e feliz, porque sabia que não terminara por ai, que ainda sim, havia continuação e pensou, em voz alta, em alto e bom tom: "- Ah, como o vestido azul ficou lindo nela".