01 junho, 2014

Uma vida de sete erros


Ela chega em casa cansada e irritada, joga a bolsa pra um lado e a blusa que cobre o frio de outro, não entendendo o que fez de errado.
Era um dia comum e tudo ia super bem, mas aquele comentário...Ah, aquele comentário lhe fez perder a graça do pôr do Sol, mas não podia fazer nada...as palavras são fáceis de sair pela boca e difíceis de digerir por quem escuta, mas enfim, continuou a vida, olhando o lado bom que sabia que tinha feito.
[...] Dizia isso porque não entendia como existem pessoas que vivem uma vida de sete erros, sabe? Aquele jogo que você olha as duas figuras, iguaizinhas e tenta achar o erro entre elas. Tem pessoas que só sabem brincar disso, que passam seus dias procurando os erros, que não aceitam se tudo estiver bom, aparentemente, não se contentam e ainda sim, conseguem enxergar, por detrás das cortinas, debaixo dos tapetes, no fundo do olhar, na ponta da agulha...alguma coisa errada. E o pior, achar o erro lhes faz tão bem que ainda sim, fazem com que você, em sua mera insignificância de humano, portanto errante, se sinta o pior dos mortais porque, não conseguiu alcançar a perfeição.
- Ora bolas! E todo o resto? E todo o 99,999% da coisa bem feita?
- Vai por água a baixo, senhorita.
Vivemos, infelizmente, num mundo onde muita gente gosta de jogar "os sete erros", não importa se a figura é linda, sempre tem alguém caçando o erro. E a recompensa? Eles devem saber.

Maísa, então....desanimada, foi pra varanda olhar a rua, olhar as pessoas de cima pra baixo lhe faz bem, lhe faz se imaginar o que cada uma delas está pensando, pensar quem gosta de jogar, quem não gosta e prefere ver um mundo melhor, enfatizando as coisas boas, antes dos pequenos detalhes que alguns consideram ruins. O aprendizado é feito de erros, não? E dizem que só não erra, aquele que não tenta. Então, senhor, prefiro errar mil vezes e continuar tentando, a ser a coadjuvante de uma vida que é minha. Eu prefiro protagonizar e errar, porque sem o risco, não há vitórias e sem tentativa, não há como saber como seria. Eu prefiro, mil e uma vezes, saber o gosto de como é pra depois pensar se vale ou não a pena investir.
Não vivo de achismo, vivo de certezas...enfiei o pé na jaca por vezes, mas me orgulho de cada aprendizado que tive, de cada tombo e de cada dor, porque eu sei (agora) que o sofrimento é muito mais comportamento do que sentimento; e se é comportamento, então posso escolher sofrer, escolher dar ouvidos aos apontamentos dos outros ou simplesmente olhar para o bem que fiz. Posso escolher sofrer por três meses ou por um dia e posso ser, sem medo, a mesma menina que sempre fui.

Não jogue os sete erros, escolha outro jogo, por favor!